Estão incluídas entre essas atividades a conversão da exploração madeireira convencional
As crescentes preocupações com a
mitigação das mudanças do clima levaram à criação de mecanismos de
mercado que recompensassem financeiramente ações adicionais de remoção
de gases do efeito estufa da atmosfera através de projetos voltados ao
mercado de carbono.
Diante do exposto, o engenheiro florestal Thales Augusto Pupo West
desenvolveu uma metodologia para projetos florestais de carbono
envolvendo a conversão da exploração madeireira convencional (ilegal)
para o manejo florestal que utilize técnicas de Exploração de Impacto
Reduzido (EIR). O estudo foi proposto no Programa de Pós-graduação em
Recursos Florestais, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
(USP/ESALQ).
“Embora, no âmbito do Protocolo de Kyoto, apenas atividades florestais
de florestamento e reflorestamento sejam consideradas elegíveis, a
maturação do mercado voluntário de carbono levou regimes de mercado como
o Verified Carbon Standard (VCS) a aceitarem, entre outras, atividades
de projeto envolvendo a melhoria do manejo florestal”, conta o autor do
trabalho, que teve orientação de Edson José Vidal da Silva, docente do
Departamento de Ciências Florestais (LCF) e apoio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Estão incluídas entre essas atividades a conversão da exploração
madeireira convencional (EC) para o manejo florestal com exploração de
impacto reduzido (MF-EIR), atividade esta que, segundo West, muito
provavelmente estará inclusa no escopo de um futuro programa florestal
de mitigação das mudanças do clima, o REDD+ (redução de emissões do
desmatamento e degradação florestal mais os benefícios do sequestro de
carbono a partir de melhorias do manejo florestal).
Na prática, a pesquisa utilizou uma série histórica de 16 anos de dados
de uma área florestal explorada através da EC e do MF-EIR em Paragominas
(PA), onde o diâmetro a altura do peito (DAP), o crescimento, a
mortalidade e o recrutamento foram monitorados, além de identificados o
nome vulgar e o nome científico de todos os indivíduos amostrados. A
área estudada, de 210 hectares, foi submetida a 3 formas de tratamentos.
MF-EIR em 105 ha, exploração convencional em 75 ha e área de controle,
não explorada, em 30 ha. As explorações aconteceram em 1993, sendo
realizados inventários florestais pré-exploração, em 1993, e
pós-exploração, nos anos de 1994, 1995, 1996, 1998, 2000, 2003, 2006 e
2009.
A partir disso o engenheiro florestal estimou os impactos dos
tratamentos na dinâmica do carbono ao longo do tempo, sob a perspectiva
de um projeto florestal de crédito de carbono envolvendo a conversão da
EC para o MF-EIR. “O objetivo foi desenvolver essa metodologia para que
agentes madeireiros pudessem utilizar o incentivo financeiro do mercado
de carbono, um pagamento por serviço ambiental para adotar práticas
sustentáveis de manejo florestal. Essa opção de projeto é elegível no
mercado voluntário de carbono, porém necessita de uma metodologia
aprovada para acontecer e até o momento não existe nenhuma que funcione
dessa forma”, explica.
Tendo como pilares regras e guias de boas práticas envolvendo atividades
de uso do solo e mudanças do uso do solo como o GPG-LULUCF do IPCC,
além de outras metodologias e ferramentas aprovadas para projetos
florestais de carbono, a dinâmica dos estoques de carbono foi monitorada
e, com base nessa dinâmica, foi estimado qual seria o retorno
financeiro de um projeto de carbono.
“A comparação entre os tratamentos MF-EIR e EC em relação às taxas de
regeneração dos estoques de carbono apontou diferenças estatísticas
significativas. O tratamento MF-EIR apresentou um incremento médio
observado de 12,30 Mg C ha-1 ano-1 e estimado de 13,01 Mg C ha-1 ano-1,
enquanto que o tratamento EC apresentou um incremento médio observado de
5,42 Mg C ha-1 ano-1 e estimado de 5,43 Mg C ha-1 ano-1”, destaca o
pesquisador.
Viabilidade econômica – Em termos econômicos, o estudo
considerou cenários distintos envolvendo a área do projeto e avaliou
resultados para 500, 1.000, 5.000, e 10.000 hectares, além do preço do
crédito de carbono fixado em US$ 5,00, US$ 7,50, e US$ 10,00 por
unidade. “Observamos a partir daí uma matriz de resultados onde apenas
projetos com área superior a 1.000 ha seriam possivelmente viáveis
economicamente à atividade de projeto de carbono em questão”.
Concomitante, o valor mínimo estimado do crédito de carbono para que não
haja prejuízo financeiro aos madeireiros por uma possível postergação
do início do segundo ciclo de corte na área do projeto, tempo necessário
para que os estoques de carbono da biomassa arbórea viva atinjam seu
valor inicial pré-exploração, foi de US$ 5,33 por unidade. “Esse valor
está dentro da faixa de preços praticados pelo mercado de carbono
apontada pela literatura”.
Além dessas vantagens, West lembra que a metodologia sugere uma nova
forma de abordagem dada ao credito de carbono, que é baseado atualmente
no volume estocado, sem considerar se está alocado no reservatório de
carbono da matéria morta ou no da biomassa viva. “Um dos resultados
sugere que o carbono estocado na biomassa viva é mais importante para a
sustentabilidade do manejo florestal e deve ser dada maior importância a
ele nesse contexto de PSA baseado no carbono florestal. Agora, o passo
seguinte é submeter a metodologia para aprovação no VCS. No entanto,
esse é um processo longo”, finaliza.
Fonte: Inteligemcia/ Assessoria Esalq-USP